Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

Daniele Pestano


Relato individual de atividades PIBIB-Teatro Licenciatura

Daniele Almeida Pestano

O presente texto visa tornar mais claro as intenções, métodos de criação e desenvolvimento das atividades exercidas através do programa PIBID II- Humanidades, grupo Teatro-Licenciatura, durante o ano de 2011, sem perder de vista seus significados mais sutilmente humanos, assim como seus resultados de cunho mais imediato e prático. As atividades se deram em duas frentes de trabalho: atividades específicas e atividades interdisciplinares; ambas desenvolvidas, no meu caso, junto à Escola Estadual de 1º e 2º Graus Profª. Sylvia Mello.
Há de se começar então pela descrição das atividades específicas, que se definem, de maneira inicial, como as atividades inerentes ao ensino teatral exercidas junto a alunos da rede pública. Tais atividades já tinham sua linha principal de ação definida quando do meu ingresso no grupo, tendo ficado com um grupo de mais três pessoas, divididas em duas duplas, todos incumbidos de trabalhar junto à Escola Sylvia Mello. Eu e meu parceiro de trabalho [Allan Luis Correia Leite] ficamos encarregados de exercer tais atividades específicas junto a três turmas de ensino fundamental básico, a saber, de 1º, 3º e 4º anos.   
Como primeiro desafio, no início do período letivo de 2011, tínhamos a decisão de como trabalhar, de modo responsável, com alunos de tão tenra idade, de onde partimos da ideia inicial, de trabalharmos com material reciclável, que nos levou à intenção da criação de fantoches, utilizando tais materiais. Mas não queríamos partir de forma imediata à elaboração de tal material, afinal: “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática ativismo” [1].
Acrescentamos então a relação dos personagens criados em fantoches à elaboração de uma história coletiva, através do método do jogo dramático infantil[2], com o qual eu já tinha tido a oportunidade de trabalhar numa disciplina curricular do Curso de Teatro[3]. Tal método conta, de maneira simplista, com a criação de uma história e depois encenação, pelos próprios alunos. Entretanto, não sabíamos com quais alunos trabalharíamos em realidade, portanto realizamos o primeiro encontro para uma sondagem inicial. É necessário que se saliente aqui que a única disponibilidade de horários que encontramos junto às turmas foi a de aproximadamente uma hora junto a cada uma, sendo liberadas todas as quintas-feiras, de forma consecutiva, em meio ao horário de aulas curricular, deste modo aproveito para agradecer tanto à direção da escola quanto às professoras das referidas turmas pela colaboração.
No primeiro encontro planejamos atividades simples e mais recreativas, a fim de deixá-los à vontade, interessados e envolvidos na proposta. Nem todos foram receptivos, tendo em vista suas inibições naturais aliadas ao embaraço do contato com novos “professores”. Todavia, foi possível e superprodutiva a realização destas atividades, que serviram como “termômetro” para nosso planejamento das atividades posteriores. Além da inibição, já esperada, encontramos, de modo geral, um problema de concentração nas atividades, que, mesmo sendo rápidas [devido ao pouco tempo disponível] e lúdicas, não conseguiam prender suas atenções de forma linear. Este diagnóstico nos fez optar por trabalhar com esse aspecto de maneira mais especial, com o intento de desenvolver suas paciências e determinações na finalização e realização de tarefas, características essas que seriam importantes durante a criação tanto da história como dos fantoches, sendo que o grau de sucesso e envolvimento no desenvolver da primeira influenciaria, de forma inevitável, no comprometimento deles durante a execução da segunda.
Desta maneira, tendo em mãos o calendário escolar deles e o nosso, fomos capazes de estipular o número aproximado de encontros que teríamos, os quais distribuímos, segundo o foco, em dois grandes blocos: um com atenção no desenvolvimento tanto da concentração quanto da criatividade/expressão dos alunos e outro centrado na criação da história e personagens, execução dos fantoches, bem como no seu uso prático, na manipulação, interpretação utilizando os mesmos.
Dentre as atividades desenvolvidas ordinariamente, o aquecimento, de início meio rejeitado, feito de forma “matada” e cheio de desculpas para não fazer, foi-se tornando conhecido e apreciado pelos alunos, que adoravam saber a sequência e mostrar aos que tinham alguma dificuldade a forma correta de fazer. Para a seleção dos jogos dispomos do repertório adquirido em oficinas realizadas das quais eu e minha dupla já havíamos participado, além do repertório utilizado nas aulas que recebemos na faculdade, assim como de bibliografia (Jogos teatrais : o fichário de Viola Spolin, Jogos para atores e não-atores de Augusto Boal, etc.) sempre com atenção às adaptações necessárias, advindas de fatores como a idade dos alunos, seu grau e critérios de interesse, além, é claro, do fator limitante de tempo disponível para sua execução. De forma geral encontramos uma recepção muito maior por parte dos alunos menores, que se mostravam não só mais abertos às atividades como mais concentrados. É provável que a presença da professora e a retomada por parte dela dos assuntos abordados durante a oficina em seu horário de aula tenham colaborado em grande conta nesse bom desenvolvimento, tornando-o mais incluído no cotidiano deles. Um dos grandes problemas encontrados na execução dos jogos foi a presença de certa violência entre os alunos, mas que se demonstrou cada vez menor com o desenrolar dos encontros. Tivemos uma experiência incentivadora, na qual um aluno em especial, que se demonstrou um grande desafio de fazer-se interessado, no início extremamente agressivo e “respondão”, passou de empecilho às atividades à grande colaborador e inclusive incentivador da participação dos demais.  Obviamente o fato de serem de pouca idade, cheios de energia ativa, e terem poucas atividades que deem vazão às suas demandas de agitação colaboravam em grande conta nas dificuldades encontradas na hora de ouvir as instruções ou concentrar-se de forma efetiva na atividade. Procuramos evitar soluções do tipo tolidora, usamos diversos recursos como a mudança de algumas atividades por outras mais lúdicas e corporais, às quais sempre se obtinham boas respostas. A atividade final de relaxamento foi sempre bem recebida, apesar das dificuldades iniciais de acalmar o corpo e a mente depois de muito excitadas.
O desenvolvimento da história foi muito gratificante, as três turmas deram origem a três histórias bem diferenciadas e interessantes, com o mínimo de intervenção nossa. O exercício de ouvir, falar e criar foi deveras estimulante e todos participaram com muita empolgação. Devido a motivos médicos estive impedida de participar da finalização das atividades, tendo parado durante o início da confecção dos fantoches. Só pude retomar as atividades no meio do segundo semestre de 2011, quando já havia ocorrido uma troca de turmas, ficando o Allan, e por consequência eu quando do meu retorno, com uma turma do 8º ano. Nesta turma ainda participei de umas quatro oficinas, que tiveram por foco as habilidades de leitura e expressão dos alunos. O andamento e finalização planejados por nós tiveram de ser alterados devido à greve dos professores e, quando do retorno, da aplicação de provas nos horários que anteriormente nos eram reservados.
No que diz respeito às atividades interdisciplinares, de modo inicial, durante o primeiro semestre de 2011, se passou por um levantamento coletivo a fim de estabelecer a metodologia a ser utilizada, levando em conta sempre as questões de relevância para o ambiente escolar em questão [apoiados nos dados de levantamento efetuado na Escola Sylvia Mello no início do PIBID 2], disponibilidade de tempo, espaço e verba a ser aplicada. Desta abordagem inicial chegou-se à necessidade da escolha de um tema que se mostrasse de interesse e futuro avanço para todo o corpo escolar, de onde adotamos o tema “Identidade”. A partir deste tema central discutimos quais seriam os eixos norteadores para o desenvolvimento das atividades em si, que acabaram por ser o trabalho específico com o corpo discente e com o corpo docente. Para a discussão e elaboração das atividades de cada eixo decidimos que seria mais conveniente o trabalho com dois grupos menores, que foram divididos sempre com a preocupação de que houvesse a participação de membros de todos os cursos, garantindo a pluralidade e intentando já um trabalho dentro da meta interdisciplinar. Com o tema identidade, em discussões entre cada grupo menor e o todo, ficou em evidência que uma das maiores dicotomias se encontrava, ainda mais do que na tensão diferencial entre professor e aluno, nas pluralidades de comportamento de cada uma destas categorias quando dentro ou fora da escola, em seus múltiplos papéis diante da sociedade [filho/mãe/trabalhador/aluno/etc.] e as diversas tensões que as mesmas ocasionavam, tanto no nível de rendimento escolar quanto no patamar da qualidade de vida em geral. Pois, como ainda hoje acontece: “A crescente separação entre a escola e o resto da vida amplia ainda mais um abismo que nenhum esforço poderá transpor” [4].
De onde estas tensões viraram mais um quesito de atenção constante na fase de construção do projeto, tendo permeado todo seu desenvolvimento. Então, num exercício de autonomia, concentração e utilização da bagagem de experiências de cada aluno envolvido, fomos estabelecendo as atividades a serem desenvolvidas, tendo sempre em vista o tema e eixos norteadores não só do projeto interdisciplinar da Escola Sylvia Mello, mas do próprio PIBID. Nesta etapa pude, devido à minha bagagem anterior de participação em oficinas de temáticas diversas, colaborar em grande conta, o que me deu enorme satisfação, pois às vezes parece que os conhecimentos menos específicos acumulados têm, dificilmente e não sem um esforço de adaptação, uma real utilização. Todavia, como citado antes, devido a meu afastamento temporário, não pude participar da realização de tais atividades, que se deram na primeira metade do segundo semestre de 2011. Acabei por participar, mais efetivamente, da atividade de encerramento [a qual chamamos Feira Cultural] que, apesar de não ter saído, por inúmeras razões, como o planejado [falta de verba, falha na etapa de divulgação...], devido ao esforço dos presentes acabou por ser um sucesso. Num balanço geral é possível analisar não só o crescimento vertiginoso de autoconfiança e engajamento de vários colegas que no início eram tímidos e não muito participativos como a cumplicidade gerada de modo geral entre os colegas de áreas do conhecimento diversas. De modo pessoal ficou a lástima de não ver tomar forma os planos que com tanto afinco fizemos anteriormente, mas a gratificação de ouvir falar como diversas ideias deram certo. Assim como também a análise de outras atividades que consideraram não tão frutíferas, mas que sei ter plantado uma semente de mudança e conscientização, não visível de imediato, mas relacionada ao lado sensível, subjetivo, tão íntimo das artes e tão impossível de comensurar.
Concluo dizendo, sem medo, que esta constitui uma experiência indispensável a qualquer futuro professor, tanto no que diz respeito à reavaliação de suas intenções frente a gama imensa de dificuldades encontradas quanto no que diz respeito à futura possível solução das mesmas. É impressionante ver o quanto se cresce frente aos diversos desafios de lecionar ainda em formação e o quanto isso influencia positivamente na aceleração e na tomada da própria responsabilidade do acadêmico não só neste quesito, mas quanto à influência que acabam tendo ao tangenciar a vida de outros seres humanos.


[1] Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, 3ª ed. / Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p14.
[2] Presente no livro: “O jogo dramático infantil”, de Peter Slade.
[3] Disciplina de Teatro na Educação 1, ministrada pela profª. Marina Oliveira. Através de um trabalho em grupo, parte integrante da avaliação da disciplina, e com a colaboração do Colégio Estadual Félix da Cunha, foi possível desenvolver de forma prática a atividade junto a uma turma de 3º ano.
[4] Tradução livre de: “La creciente separación entre la escuela y el resto de la vida ensancha más un abismo que ningún puente de esfuerzos podrá salvar.” [La escuela ha muerto: alternativas en materia de educacion, 1ª ed. / Everett Reimer. Barcelona: Barral editores, 1973].





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