Relato individual de
atividades PIBIB-Teatro Licenciatura
Daniele
Almeida Pestano
O presente texto visa tornar mais claro
as intenções, métodos de criação e desenvolvimento das atividades exercidas
através do programa PIBID II- Humanidades, grupo Teatro-Licenciatura, durante o
ano de 2011, sem perder de vista seus significados mais sutilmente humanos,
assim como seus resultados de cunho mais imediato e prático. As atividades se
deram em duas frentes de trabalho: atividades específicas e atividades
interdisciplinares; ambas desenvolvidas, no meu caso, junto à Escola Estadual
de 1º e 2º Graus Profª. Sylvia Mello.
Há de se começar então pela descrição
das atividades específicas, que se definem, de maneira inicial, como as
atividades inerentes ao ensino teatral exercidas junto a alunos da rede
pública. Tais atividades já tinham sua linha principal de ação definida quando
do meu ingresso no grupo, tendo ficado com um grupo de mais três pessoas,
divididas em duas duplas, todos incumbidos de trabalhar junto à Escola Sylvia
Mello. Eu e meu parceiro de trabalho [Allan Luis Correia Leite] ficamos encarregados
de exercer tais atividades específicas junto a três turmas de ensino
fundamental básico, a saber, de 1º, 3º e 4º anos.
Como primeiro desafio, no início do
período letivo de 2011, tínhamos a decisão de como trabalhar, de modo
responsável, com alunos de tão tenra idade, de onde partimos da ideia inicial,
de trabalharmos com material reciclável, que nos levou à intenção da criação de
fantoches, utilizando tais materiais. Mas não queríamos partir de forma
imediata à elaboração de tal material, afinal: “A reflexão crítica
sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a
teoria pode ir virando blábláblá e a prática ativismo” [1].
Acrescentamos então a relação dos
personagens criados em fantoches à elaboração de uma história coletiva, através
do método do jogo dramático infantil[2], com o
qual eu já tinha tido a oportunidade de trabalhar numa disciplina curricular do
Curso de Teatro[3].
Tal método conta, de maneira simplista, com a criação de uma história e depois
encenação, pelos próprios alunos. Entretanto, não sabíamos com quais alunos trabalharíamos
em realidade, portanto realizamos o primeiro encontro para uma sondagem
inicial. É necessário que se saliente aqui que a única disponibilidade de
horários que encontramos junto às turmas foi a de aproximadamente uma hora
junto a cada uma, sendo liberadas todas as quintas-feiras, de forma
consecutiva, em meio ao horário de aulas curricular, deste modo aproveito para agradecer tanto à direção da
escola quanto às professoras das referidas turmas pela colaboração.
No primeiro encontro planejamos
atividades simples e mais recreativas, a fim de deixá-los à vontade,
interessados e envolvidos na proposta. Nem todos foram receptivos, tendo em
vista suas inibições naturais aliadas ao embaraço do contato com novos
“professores”. Todavia, foi possível e superprodutiva a realização destas
atividades, que serviram como “termômetro” para nosso planejamento das
atividades posteriores. Além da inibição, já esperada, encontramos, de modo
geral, um problema de concentração nas atividades, que, mesmo sendo rápidas
[devido ao pouco tempo disponível] e lúdicas, não conseguiam prender suas
atenções de forma linear. Este diagnóstico nos fez optar por trabalhar com esse
aspecto de maneira mais especial, com o intento de desenvolver suas paciências
e determinações na finalização e realização de tarefas, características essas
que seriam importantes durante a criação tanto da história como dos fantoches,
sendo que o grau de sucesso e envolvimento no desenvolver da primeira
influenciaria, de forma inevitável, no comprometimento deles durante a execução
da segunda.
Desta maneira, tendo em mãos o
calendário escolar deles e o nosso, fomos capazes de estipular o número aproximado
de encontros que teríamos, os quais distribuímos, segundo o foco, em dois
grandes blocos: um com atenção no desenvolvimento tanto da concentração quanto da
criatividade/expressão dos alunos e outro centrado na criação da história e
personagens, execução dos fantoches, bem como no seu uso prático, na
manipulação, interpretação utilizando os mesmos.
Dentre as atividades desenvolvidas
ordinariamente, o aquecimento, de início meio rejeitado, feito de forma
“matada” e cheio de desculpas para não fazer, foi-se tornando conhecido e
apreciado pelos alunos, que adoravam saber a sequência e mostrar aos que tinham
alguma dificuldade a forma correta de fazer. Para a seleção dos jogos dispomos
do repertório adquirido em oficinas realizadas das quais eu e minha dupla já
havíamos participado, além do repertório utilizado nas aulas que recebemos na
faculdade, assim como de bibliografia (Jogos teatrais : o fichário de Viola
Spolin, Jogos para atores e não-atores de
Augusto Boal, etc.) sempre com atenção às adaptações necessárias, advindas de
fatores como a idade dos alunos, seu grau e critérios de interesse, além, é
claro, do fator limitante de tempo disponível para sua execução. De forma geral
encontramos uma recepção muito maior por parte dos alunos menores, que se
mostravam não só mais abertos às atividades como mais concentrados. É provável
que a presença da professora e a retomada por parte dela dos assuntos abordados
durante a oficina em seu horário de aula tenham colaborado em grande conta
nesse bom desenvolvimento, tornando-o mais incluído no cotidiano deles. Um dos
grandes problemas encontrados na execução dos jogos foi a presença de certa
violência entre os alunos, mas que se demonstrou cada vez menor com o
desenrolar dos encontros. Tivemos uma experiência incentivadora, na qual um
aluno em especial, que se demonstrou um grande desafio de fazer-se interessado,
no início extremamente agressivo e “respondão”, passou de empecilho às
atividades à grande colaborador e inclusive incentivador da participação dos
demais. Obviamente o fato de serem de
pouca idade, cheios de energia ativa, e terem poucas atividades que deem vazão
às suas demandas de agitação colaboravam em grande conta nas dificuldades
encontradas na hora de ouvir as instruções ou concentrar-se de forma efetiva na
atividade. Procuramos evitar soluções do tipo tolidora, usamos diversos
recursos como a mudança de algumas atividades por outras mais lúdicas e
corporais, às quais sempre se obtinham boas respostas. A atividade final de
relaxamento foi sempre bem recebida, apesar das dificuldades iniciais de
acalmar o corpo e a mente depois de muito excitadas.
O desenvolvimento da história foi muito
gratificante, as três turmas deram origem a três histórias bem diferenciadas e
interessantes, com o mínimo de intervenção nossa. O exercício de ouvir, falar e
criar foi deveras estimulante e todos participaram com muita empolgação. Devido
a motivos médicos estive impedida de participar da finalização das atividades,
tendo parado durante o início da confecção dos fantoches. Só pude retomar as
atividades no meio do segundo semestre de 2011, quando já havia ocorrido uma
troca de turmas, ficando o Allan, e por consequência eu quando do meu retorno,
com uma turma do 8º ano. Nesta turma ainda participei de umas quatro oficinas,
que tiveram por foco as habilidades de leitura e expressão dos alunos. O
andamento e finalização planejados por nós tiveram de ser alterados devido à
greve dos professores e, quando do retorno, da aplicação de provas nos horários
que anteriormente nos eram reservados.
No que diz respeito às atividades
interdisciplinares, de modo inicial, durante o primeiro semestre de 2011, se
passou por um levantamento coletivo a fim de estabelecer a metodologia a ser
utilizada, levando em conta sempre as questões de relevância para o ambiente
escolar em questão [apoiados nos dados de levantamento efetuado na Escola
Sylvia Mello no início do PIBID 2], disponibilidade de tempo, espaço e verba a
ser aplicada. Desta abordagem inicial chegou-se à necessidade da escolha de um
tema que se mostrasse de interesse e futuro avanço para todo o corpo escolar,
de onde adotamos o tema “Identidade”. A partir deste tema central discutimos
quais seriam os eixos norteadores para o desenvolvimento das atividades em si,
que acabaram por ser o trabalho específico com o corpo discente e com o corpo
docente. Para a discussão e elaboração das atividades de cada eixo decidimos
que seria mais conveniente o trabalho com dois grupos menores, que foram
divididos sempre com a preocupação de que houvesse a participação de membros de
todos os cursos, garantindo a pluralidade e intentando já um trabalho dentro da
meta interdisciplinar. Com o tema identidade, em discussões entre cada grupo
menor e o todo, ficou em evidência que uma das maiores dicotomias se
encontrava, ainda mais do que na tensão diferencial entre professor e aluno,
nas pluralidades de comportamento de cada uma destas categorias quando dentro
ou fora da escola, em seus múltiplos papéis diante da sociedade
[filho/mãe/trabalhador/aluno/etc.] e as diversas tensões que as mesmas
ocasionavam, tanto no nível de rendimento escolar quanto no patamar da qualidade
de vida em geral. Pois, como ainda hoje acontece: “A
crescente separação entre a escola e o resto da vida amplia ainda mais um
abismo que nenhum esforço poderá transpor” [4].
De onde estas tensões viraram mais um
quesito de atenção constante na fase de construção do projeto, tendo permeado
todo seu desenvolvimento. Então, num exercício de autonomia, concentração e
utilização da bagagem de experiências de cada aluno envolvido, fomos
estabelecendo as atividades a serem desenvolvidas, tendo sempre em vista o tema
e eixos norteadores não só do projeto interdisciplinar da Escola Sylvia Mello,
mas do próprio PIBID. Nesta etapa pude, devido à minha bagagem anterior de
participação em oficinas de temáticas diversas, colaborar em grande conta, o
que me deu enorme satisfação, pois às vezes parece que os conhecimentos menos
específicos acumulados têm, dificilmente e não sem um esforço de adaptação, uma
real utilização. Todavia, como citado antes, devido a meu afastamento
temporário, não pude participar da realização de tais atividades, que se deram
na primeira metade do segundo semestre de 2011. Acabei por participar, mais
efetivamente, da atividade de encerramento [a qual chamamos Feira Cultural]
que, apesar de não ter saído, por inúmeras razões, como o planejado [falta de
verba, falha na etapa de divulgação...], devido ao esforço dos presentes acabou
por ser um sucesso. Num balanço geral é possível analisar não só o crescimento
vertiginoso de autoconfiança e engajamento de vários colegas que no início eram
tímidos e não muito participativos como a cumplicidade gerada de modo geral
entre os colegas de áreas do conhecimento diversas. De modo pessoal ficou a
lástima de não ver tomar forma os planos que com tanto afinco fizemos
anteriormente, mas a gratificação de ouvir falar como diversas ideias deram
certo. Assim como também a análise de outras atividades que consideraram não
tão frutíferas, mas que sei ter plantado uma semente de mudança e
conscientização, não visível de imediato, mas relacionada ao lado sensível, subjetivo,
tão íntimo das artes e tão impossível de comensurar.
Concluo dizendo, sem medo, que esta
constitui uma experiência indispensável a qualquer futuro professor, tanto no
que diz respeito à reavaliação de suas intenções frente a gama imensa de dificuldades
encontradas quanto no que diz respeito à futura possível solução das mesmas. É
impressionante ver o quanto se cresce frente aos diversos desafios de lecionar
ainda em formação e o quanto isso influencia positivamente na aceleração e na
tomada da própria responsabilidade do acadêmico não só neste quesito, mas
quanto à influência que acabam tendo ao tangenciar a vida de outros seres
humanos.
[1] Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa, 3ª ed. / Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra,
1996, p14.
[2] Presente no livro: “O jogo
dramático infantil”, de Peter Slade.
[3] Disciplina de Teatro na Educação
1, ministrada pela profª. Marina Oliveira. Através de um trabalho em grupo,
parte integrante da avaliação da disciplina, e com a colaboração do Colégio
Estadual Félix da Cunha, foi possível desenvolver de forma
prática a atividade junto a uma turma de 3º ano.
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