Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

Carolina Amaro Ferreira


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO A DOCÊNCIA
TEATRO-LICENCIATURA
COORDENADORA DE ÁREA: Vanessa Caldeira Leite
ACADÊMICA: Carolina Amaro Ferreira
DATA: 07/03/2012

Em 2010 o PIBID começou a sua jornada de estudos e preparação para chegar até a escola. Foi um bom ano, cheio de novidades, informações e desafios.
Houve alguns eventos nos quais o PIBID-TEATRO participou, apresentando os seus feitos pela cidade de Pelotas, e a inserção na escola começou a se fazer real, de maneira lenta, tateando ainda aquele lugar, que é muito conhecido por todos e ao mesmo tempo nos exigia, agora, um novo olhar sobre ele.
No colégio Dom João Braga, o PIBID-TEATRO se fez muito presente, levando até a escola apresentações de música, dança, literatura, e também permitindo com que os alunos vivenciassem idas até o teatro.
Algumas dessas atividades foram bastante conturbadas, pois eram novidade tanto para os pibidianos quanto para a escola, que não estava acostumada a organizar ações dessa natureza. Percebeu-se então, uma grande falha na comunicação de todas as pessoas envolvidas com o projeto e também dentro da escola.
Enquanto isso, a preparação para o projeto interdisciplinar estava começando. Foram várias reuniões para conhecimento do grupo, conhecimento da escola (através dos diagnósticos) e planejamento do projeto interdisciplinar.
Durante o segundo ano do PIBID, as trocas começaram a se intensificar. O trabalho com as oficinas de expressão corporal e vocal foi bem aceito e aproveitado pelos alunos. Embora alguns percalços no meio do caminho, as oficinas tiveram avanços e conseguiram um envolvimento razoavelmente grande entre os integrantes do grupo e entre a escola e o grupo. No projeto interdisciplinar o teatro foi tomando o seu espaço, eram os últimos ajustes para a escrita do projeto e colocar em prática tudo o que havia sido pensado.
Em relação às oficinas com os alunos do ensino fundamental, posso dizer que foi de grande importância trabalhar com meu colega Murilo. Pois ambos possuíamos pouca ou nenhuma experiência em ministrar oficinas, o que permitiu que houvesse um diálogo completamente aberto e que descobríssemos coisas juntos, sem inibições ou bloqueios.
Trabalhar com a construção de um grupo de teatro na escola foi uma estratégia para se colocar em evidência, além das práticas teatrais, a própria identidade escolar. Sendo “identidades e diferenças” o tema principal do nosso projeto interdisciplinar e a falta de uma cultura escolar um dos maiores problemas levantados pela escola durante o período de diagnósticos.
A partir de então, as oficinas foram focadas em três etapas: expressão corporal-vocal, improvisação e exercícios de contato com textos dramáticos. O que deu bons resultados, pois notamos um crescimento em relação ao como ser um grupo, o que é um grupo.         Os alunos se mostraram dispostos a encarar as barreiras coletivas e pessoais. E também, nós bolsistas, agregamos alguma prática docente, ampliamos a nossa visão de “aluno” e também vivenciamos o real funcionamento de uma instituição como a escola.
Já a relação com a escola foi um tanto conturbada, pois no primeiro semestre do ano, ficamos várias semanas sem dar aula por motivo de licença médica da supervisora responsável por acompanhar o trabalho. Fomos atrás da supervisora da área de artes e perguntamos se havia alguma possibilidade de darmos continuidade as oficinas sem a presença da professora responsável na escola, ou se outra pessoa poderia se responsabilizar pelo grupo, mas nada foi possível de ser feito. Então, mantivemos ainda alguns encontros durante o recreio e no horário da outra turma acompanhada pelo PIBID, no turno inverso as oficinas dedicadas aos alunos do ensino fundamental.
Ao fim do primeiro semestre de 2011, a coordenadora de área nos indagou se a atitude que havíamos tomado teria sido ética, o que me faz pensar que tipo de ética existe dentro da escola. Pois estávamos ali, no ambiente escolar, vulneráveis a tudo o que interfere nesse cotidiano, e esbarramos na burocracia da escola e na burocracia do PIBID.
O projeto interdisciplinar, no primeiro semestre de 2011, se deu de forma conturbada entre o grupo, houve várias discussões em relação apenas ao quem faz e quem não faz. Assim como se viu, dentro da escola, uma competição entre professores, de diversas ciências e funções dentro do ambiente escolar, o grupo interdisciplinar do PIBID estava reproduzindo essa prática, uma prática que não é saudável e que desqualifica o trabalho em grupo.
Mas apesar dessas intempéries, o projeto interdisciplinar foi feito e alguns líderes acabaram surgindo, tornando a aplicação das atividades mais práticas e satisfatórias. A grande experiência do projeto interdisciplinar foi a real convivência com colegas de outros cursos, com linhas de pensamento diferentes, que não só provocavam discussões saudáveis e agregadoras nas reuniões, mas também fez surgir subprojetos que eram muito abrangentes e carregados de significados humanos e cidadãos.
A partir do segundo semestre do ano, a hora era de aplicar os principais objetivos do PIBID no Dom João Braga. As duas turmas de teatro se reuniriam para formar um grupo de teatro uno e autônomo, capaz de manter-se em atividade após o término do programa na escola. E também aconteceria a aplicação do projeto interdisciplinar: “identidades da diversidade: quem sou? onde estou?”.
Os resultados referentes ao grupo de teatro, não foram muito satisfatórios no que tange ao real objetivo desta etapa, pois o grupo não chegou a se formar. Obtivemos uma grande dificuldade de horários, pois tínhamos alunos dos dois turnos (manhã e tarde) e a única alternativa encontrada para isso fora ter aula aos sábados. O que acabou se tornando um problema, pois não fazia parte do cotidiano escolar abrir a escola aos sábados e, novamente, enfrentamos uma grande burocracia para efetuar tal tarefa.
Quando conseguimos, efetivamente, espaço para desenrolar as ações do grupo, os alunos já estavam completamente desestimulados e tínhamos pouco tempo para recuperar o grupo e prepará-lo para seguir a diante.
Na aplicação do projeto interdisciplinar, tínhamos quatro sub-temas para serem distribuídos na agenda semanal de aulas das turmas onde foram feitas as inserções, o que foi difícil, pois a nossa programação foi quebrada várias vezes, devido à freqüente mudança de horários da escola.
Os subtemas a serem trabalhos eram: mídias, cinema, visitas e teatro. O grupo que ficou responsável por pensar nas atividades a serem desenvolvidas pelo tema mídias, acabou trabalhando com a construção de um jornal da escola, onde os alunos participaram de todas as etapas de montagem de um jornal, desde a escrita até a diagramação. As visitas, tinham o objetivo de efetuar saídas da escola, levando os alunos a lugares que dissessem um pouco da construção histórica da cidade e, consequentemente, influências para a construção das diversas identidades presentes nela. O subgrupo teatro, participou com inserções em dentro e fora das salas de aulas, levando até o alunos, a proposta do teatro fórum (BOAL, 2008). E, por fim, o projeto de cinema, colaborou com a recepção de filmes brasileiros, focando tanto a reflexão a cerca das identidades, quanto a importância e as especificidades de uma obra cinematográfica. Oferecendo, ainda, oficinas de stop motion, em turno inverso.
Por fim, o projeto foi aplicado com sucesso. Em alguns momentos o grupo teve que se reunir para a resolução de problemas referentes a insatisfações dentro do grupo do pibid na escola, dos alunos da escola e da própria escola. O que foi de grande importância para o crescimento do grupo. Se pode, a partir desses problemas, discutir novas formas didáticas para as práticas propostas pelo grupo interdisciplinar, crescendo o número de experiências que o PIBID proporcionou pra os bolsistas, para os alunos e para a escola.
A interdisciplinaridade nos ajudou a entender o real significado de grupo docente. Pois foi esse o tipo de relação que tínhamos na escola: um grupo de aspirantes a professores, que precisava resolver os problemas didáticos e estratégicos da aplicação de um projeto interdisciplinar, adequando-se aos alunos e à organização escolar. Para isso, as trocas de conhecimentos precisaram ser realmente efetivas. Trago aqui, a citação de Libâneo e de Oliveira, que nos fazem pensar sobre o “ser professor” dentro do sistema escolar.
Vê-se que os professores precisam fazer a sua parte, de modo que contribuam para o funcionamento da escola. Cabe-lhes entender que trabalham em parceria com seus colegas, que participam de um sistema de organização e de gestão. – O exercício profissional do professor compreende, ao menos, três atribuições: a docência, a atuação na organização e na gestão da escola e a produção de conhecimento pedagógico. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2008).
Aconteceu também, de haver certa resistência da supervisão da escola em frente às atividades que os pibidianos traziam para discutir em grupo. Resistência essa que não era gratuita, mas existia por conta de uma melhor compreensão do funcionamento da escola, por parte dos supervisores. Diante de tais colocações, muitas vezes, recuamos e acatamos a experiência maior daqueles que já possuem um percurso docente, mas em algumas situações, fomos adiante com os planos, tentando furar o bloqueio que a organização da escola estabelece, e obtivemos alguns êxitos. Quando falo de organização da escola, me refiro ao modelo escolar vigente em nosso país, e não a uma instituição específica.
Mas a troca estabelecida entre a opinião daqueles que já eram experientes na função de professor e de nós, bolsistas do projeto PIBID, mostrou que: tanto os acadêmicos tiveram muito a prender com a escola, quanto a escola, em alguns momentos, pôde usufruir da academia e da vontade de subversão de espaços e dogmas estabelecidos na educação brasileira, que os bolsistas do projeto demonstravam, e que, em alguns momentos, pode se estabelecer, de verdade, como prática docente.
No subprojeto de cinema, do qual eu fiz parte da organização, a idéia era agir em prol de se construir uma produção de pensamento crítico, que começasse a quebrar com a atitude passiva dos alunos, diante do mundo e de suas verdades inquestionáveis, a partir de obras cinematográficas brasileiras. Para que questionando a si próprios, conseguissem chegar a um “eu”, a sua identidade. E identidade aqui, não significa algo estanque, mas sim um conjunto de fatos, histórias que influenciam nas diversas identidades que, hibridizadas, formam uma nova identidade, como diz Tomas Tadeu:
“(...) O hibridismo – a mistura, a conjunção, o intercurso entre diferentes nacionalidades, entre diferentes etnias, entre diferentes raças – coloca em xeque aqueles processos que tendem a conceber a identidades como fundamentalmente separadas, divididas, segregadas. O processo de hibridização confunde a suposta pureza e insolubilidade dos grupos que se reúnem sob as diferentes identidades nacionais, raciais ou étnicas. A identidade que se forma por meio do hibridismo não é mais integralmente nenhuma das identidades originais, embora guarde traços delas.” ( DA SILVA, ...)
E além de pensar nessa cadeia de relações que forma os sujeitos, também se teve o objetivo de passar um pouco de conhecimento sobre a linguagem cinematográfica brasileira, sua importância, seus períodos e proporcionar relações conscientes com as diversas culturas presentes no ambiente escolar e com as expressões artísticas e sociais, explorando assim, a interdisciplinaridade.
Na preparação da proposta, para ser apresentada aos alunos, os filmes escolhidos foram compartilhados com todo o grupo interdisciplinar, e a pertinência do uso de tais obras cinematográficas foi discutida por todos. Ao fim das discussões, os filmes escolhidos foram: Marcovaldo, de Cíntia Langie; Quanto vale ou é por quilo, do diretor brasileiro Sérgio Bianchi; e Deus e o Diabo na terra do sol, de Glauber Rocha.
Antes de começarmos o trabalho de recepção das obras com os alunos, foi feita uma pesquisa, na qual os estudantes respondiam questões referentes ao seu universo sócio-cultural e à sua opinião sobre o cinema brasileiro. A partir de então, já se soube que enfrentaríamos certa resistência, por parte da turma, em relação aos filmes que pretendíamos passar, pois se tratavam de obras fora do eixo comercial.
O primeiro filme foi Marcovaldo, o que acabou sendo muito positivo, pois o filme trata, propriamente, de uma realidade que se encontra aqui, em Pelotas, muito próxima às realidades sociais que se encontravam naquele coletivo. Fato que abriu um bom diálogo entre bolsistas e alunos da escola, onde a turma se sentiu completamente à vontade para se colocar. E fez-se pensar sobre um universo muito próximo a eles, primeiro passo em direção ao reconhecimento de fatores que influenciam na identidade de cada ser.
Após o primeiro encontro, obtivemos confiança da turma para seguir o trabalho, que seria mais difícil de ali em diante, pois as linguagens dos próximos dois filmes eram mais complexas e, ao mesmo tempo, bastante específicas. Os debates que se seguiram foram menos fluidos, e as estratégias didáticas tiveram que ser mudadas.
Acabou que o último filme, Deus e o Diabo na Terra do Sol, além de ter um ritmo consideravelmente mais lento do que os outros, concorreu com problemas técnicos na hora da apresentação, onde o áudio saiu extremamente prejudicado, e com o tempo de aula, que era bem menor que o tempo do filme. Para resolver tal problema, a solução foi adiantar o filme de momento em momento, com o auxílio de uma narração das bolsistas e dando ênfase para as cenas mais importantes. Assim se puderam mostrar os reais contexto e narrativa do filme e também parar imagens para falar de recursos técnicos, posições de câmera, etc. Como resultado esse encontro foi o mais compreendido pelos alunos e o único que atingiu todos os objetivos do subprojeto: refletir sobre um contexto brasileiro e também sobre a linguagem cinematográfica.
Em outra parte da proposta de compreender a linguagem cinematográfica, obtivemos a colaboração de estudantes dos cursos de Áudio-Visual e de Cinema de Animação, que ministraram uma oficina sobre stop-motion (uma técnica de cinema de animação), onde os alunos produziram curtas-metragens, participando desde a produção do roteiro até a edição do produto final. Atividade essa que foi muito satisfatória e produtiva. E não apenas porque se obteve um produto final, mas porque esse produto final não carregava consigo um caráter avaliativo, mas sim a troca de experiências de um grupo onde as pessoas estavam procurando coisas diferentes pela mesma via. A proximidade com os alunos, nessa atividade, foi muito grande e permitiu a quebra do bloqueio aluno-professor. O grupo era pequeno e completamente engajado. Temia-se não dar tempo de terminar o processo todo, mas com as facilidades de diálogo criadas pelo coletivo, o desenrolar das oficinas se deu de forma muito tranqüila.
Contudo, o PIBID foi uma experiência de interagir com diversos elementos da prática docente. Tanto o trabalho em grupo, como entender a organização e o funcionamento da escola, e também as primeiras interações com o ser “aluno”. Além disso, podemos pensar quais são as verdadeiras atribuições de um docente, no sentido de não somente ministrar aulas disciplinarizadas e cheias de conteúdos, mas também pensar a educação, ajudar a reconstruir um cenário que é primordial para o desenvolvimento humano. A acima de tudo, o PIBID me trouxe a idéia de que nem todos podem ser professores, para isso é preciso uma doação de si mesmo muito grande, e que o professor deve transmitir idéias e formar cidadãos a partir de sua sensibilidade, de seu real contato com o mundo, sempre levando em conta a bagagem cultural dos educandos.
Creio que o teatro deve trazer felicidade, deve ajudar-nos a conhecermos melhor a nós mesmos e ao nosso tempo. O nosso desejo é o de melhor conhecer o mundo que habitamos, para que possamos transformá-lo da melhor maneira. O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir o futuro, em vez de mansamente esperarmos por ele. (BOAL, 2008, p. xi).


REFERÊNCIAS:
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
LIBÊNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2008.
DA SILVA, Tomas Tadeu.  A produção social da identidade e da diferença.




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