Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

Bianca E. Barbosa


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
TEATRO LICENCIATURA
Bianca Ebeling Barbosa

No ano de 2010 mais precisamente no mês de maio, deu-se inicio as atividades do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID Humanidades da Universidade Federal de Pelotas. Os 20 bolsistas selecionados para área de Teatro foram distribuídos de acordo com a necessidade de cada uma das seis escolas participantes. Para Escola Municipal Ministro Fernando Osório na qual eu atuei, foram encaminhadas duas bolsistas, onde nós trabalhávamos de forma “interdisciplinar” com as bolsistas do curso de Pedagogia.
Conforme o subprojeto do Pibid UFPel objetivo do referido programa é: valorizar a docência e apoiar estudantes dos cursos de licenciaturas, proporcionando-lhes a interface entre as teorias aprendidas na sala de aula e o contato com as realidades que atravessam o exercício da docência em escolas de ensino público.

No entanto o subprojeto do PIBID UFPel ainda previa o trabalho interdisciplinar entre as licenciaturas envolvidas.
Nos primeiros meses de trabalho as atividades solicitadas foram leituras e debates dos PCNs, que no meu caso foram os de Artes para ensino fundamental e ensino médio. Realizamos ainda leituras de textos e discussões sobre o que seria interdisciplinaridade e um diagnóstico da escola, onde cada licenciatura focava as questões para suas especificidades a fim de constatar quais eram as demandas da escola em cada área.
No que diz respeito aos estudos dos PCNs e das leituras que realizadas sobre interdisciplinaridade acredito eu que foram importantes e significativas para o nosso aprendizado enquanto docentes e na montagem das nossas atividades na escola. Todavia quando começamos o trabalho efetivamente, notamos que a realidade escolar ainda está muito distante de tudo que havíamos lido nos Parâmetros Curriculares Nacionais, e que os conceitos de interdisciplinaridade são muito amplos e diversificados, proporcionando inclusive mais de uma forma de entendimento sobre o que seria um projeto interdisciplinar.
Das leituras realizadas sobre o assunto a que eu acredito que melhor fez conexão com a prática que nós desenvolvemos com os alunos nas aulas foi a de Hilton Japiassu do livro Interdisciplinaridade e patologia do saber onde ele aponta que: “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa” (JAPIASSU,1976, pg. 74)
Após a conclusão desta etapa de estudos e leituras, as pibidianas envolvidas começaram a pensar em maneiras e temáticas para construir o projeto interdisciplinar que seria desenvolvido na escola.  Iniciou-se então o diagnóstico da área de Artes e também da Pedagogia que tinha como objeto analisar as práticas e o ensino dos anos iniciais. Depois das duas áreas verificarem os resultados obtidos as pibidianas juntaram os dados podendo assim concluir quais eram as necessidades da escola para que fosse possível melhorar a qualidade do ensino dessa instituição.
A pedagogia constatou através de testes realizados pelas pibidianas que em uma mesma turma havia vários níveis diferentes no processo de aprendizagem e que faltava um trabalho mais lúdico nas turmas que foram pesquisadas. Nós notamos que esses alunos de 5 a 7 anos de idade praticamente não se movimentavam durante o período que estavam na escola, pois os únicos momentos em que essas crianças podiam brincar, correr e pular de forma espontânea, explorando as possibilidades de seus corpos era nos 15 minutos do recreio e nas aulas de educação física. Percebemos ainda que a maior parte desses alunos nunca tinha tido contato com teatro, muitos nem sabiam o que era.
Depois dos resultados citados, as pibidianas da escola Ministro Fernando Osório começaram a pensar em possibilidades para criar um projeto interdisciplinar que contemplasse as demandas que a escola tinha apresentado assim como ambas as licenciaturas envolvidas. No entanto, o subprojeto da Pedagogia já tinha um foco, o trabalho com alfabetização e letramento nos anos iniciais, o que de certa forma restringiu algumas das possíveis atividades que poderiam vir a ser desenvolvidas na escola.
A partir desse foco que a Pedagogia já apresentava e que cabia aos resultados que tinham sido apontados para a sua área, nós procuramos criar atividades que trabalhassem o corpo e voz a partir dos conteúdos que a Pedagogia propunha e foi assim que criamos um projeto multidisciplinar ao invés de um interdisciplinar. Eu defino o trabalho realizado nessa instituição como multidisciplinar pelo seguinte fator:

Segundo Japiassú, a multidisciplinaridade se caracteriza por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas em torno de uma temática comum. Essa atuação, no entanto, ainda é muito fragmentada, na medida em que não se explora a relação entre os conhecimentos disciplinares e não há nenhum tipo de cooperação entre as disciplinas. (JAPIASSÚ, 1976, p.220)

Foi justamente isto que aconteceu com o projeto “interdisciplinar” do Ministro Fernando Osório, no meu ponto de vista. A Pedagogia trabalhou com foco na alfabetização e no letramento de acordo com seus conteúdos e especificidades e o Teatro embora tenha trabalhado a partir de algumas temáticas que a Pedagogia e as professoras titulares estavam abordando nas aulas também não fugiu de suas especificidades metodológicas. Sendo assim, eu acredito que com os discentes envolvidos tenha se desenvolvido um trabalho “interdisciplinar” uma vez que o aprendizado deles acontecia de forma completa.  Primeiramente era passado às crianças o conhecimento intelectual, eles ganhavam as noções de escrita, da fala, de sociedade e etc. e após nós trabalhávamos esses mesmo aspectos através da hora do conto, das aulas de expressão corporal, dos jogos teatrais e de outras atividades lúdicas. Tornando o aprendizado dessas crianças mais rico, mais satisfatório, mais real e adequado para a idade.
Falo em multidisciplinar pelo fato de ambas as áreas não terem se envolvido na criação das atividades que eram realizadas em sala de aula, ou seja, embora houvesse um tema em comum tanto a Pedagogia quanto o Teatro realizavam atividades para as turmas de acordo com os seus conhecimentos específicos. Para que se tivesse maior proveito dessa “integração” entre ambas licenciaturas faltou, acredito eu, o que Fazenda (1994) aponta quando fala das atitudes de um professor interdisciplinar:

Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida (FAZENDA, 1994,p. 82).



 Embora, as pibidianas do Teatro tenham lido livros que tratavam de alfabetização e letramento, inclusão dos nove anos no ensino fundamental, formas de trabalhar com crianças de seis anos entre outros, não teve a meu ver integração entre as licenciaturas envolvidas, faltou justamente o que citei anteriormente: explorar a relação entre os conhecimentos disciplinares. Não havendo essa troca entre os conhecimentos disciplinares todas nós saímos perdendo, uma vez que poderíamos e devíamos ter aprofundando nosso saber em outras áreas, até pelo fato dos conteúdos e metodologias da Pedagogia ser muito próximo dos nossos em teatro.

A experiência de ser arte-educador
O ensino de Teatro, assim como as demais linguagens das artes, passou a ser um componente curricular obrigatório em todos os níveis da educação básica no Brasil a partir da LDB de 1996. Para fundamentar e nortear o ensino de arte em nosso país contamos com documentos como os PCNs para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Todavia, o número de profissionais com formação especifica para as quatro linguagens das Artes ainda é pequeno, assim como o conhecimento e entendimento das escolas públicas a respeito dessas.
Por se tratar de uma área nova na escola é “normal” que os docentes dessas licenciaturas encontrem dificuldades quando se defrontam com a realidade escolar seja ela de espaço físico, material, aceitação por parte dos colegas professores que muitas vezes desconhecem a importância do teatro na educação ou até mesmo pela direção da instituição que por não estar acostumada com docentes da referida área veem o teatro apenas como momento de recreação e/ou bagunça uma vez que para que a aula de teatro aconteça é necessário que se afaste cadeiras e classes. Parte dessa realidade eu vivenciei durantes os dois anos como bolsista.
Quando entrei para o PIBID além do desafio de trocar com alunos o conhecimento que eu vinha adquirindo na faculdade, de aprender com eles, de trabalhar de modo interdisciplinar com outra área da qual eu desconhecia as especificidades e metodologias, eu passei pela tarefa de mostrar a escola o que era teatro e quais eram suas finalidades na educação. Foi um começo bem difícil, pois a coordenadora de área da escola não sabia e não demonstrava interesse em conhecer o que tínhamos a oferecer a educação e aprendizado daqueles discentes. Por estes fatores ela acabou restringindo o nosso trabalho somente as turmas que Pedagogia iria trabalhar, nos vetando até mesmo de dar assistência a uma professora de português que realizava oficinas de teatro na escola, sem ter qualquer experiência ou contato maior com os conteúdos e especificidades da área.
Apesar de passar por essa experiência já nos primeiros contatos com a escola, nós persistimos e realizamos as atividades com as turmas de primeiros e segundos anos como havia sido permitido.  Foi através dessas atividades que nós conseguimos conquistar o respeito e admiração tanto da direção da escola quanto dos professores titulares que estavam envolvidos diretamente com o nosso trabalho.
No entanto além de ganhar espaço na escola, a confiança e o respeito dos professores, nós precisávamos adquirir a confiança dos nossos alunos para que assim pudéssemos cativá-los e trocarmos experiência com eles durante as nossas aulas. Até por que cada aula que realizávamos era um desafio. Conseguir unir a temática dos conteúdos que eles deveriam ver com os jogos teatrais e ao mesmo tempo pensar em atividades que agregassem os nossos alunos com “necessidades especiais” não era nada fácil, mas foi uma experiência riquíssima para mim.
Além do mais ao analisar esse dois anos de experiências que o PIBID me proporcionou consigo notar o quanto esta bolsa foi positiva na minha formação, pois o contato com a escola antes dos estágios supervisionados do curso de Teatro-Licenciatura me deu toda a noção de como está organizada a escola, de como posso planejar as minhas aulas, das diferentes possibilidades que disponho a partir dos conteúdos do teatro, de como se dá o processo de uma aula desde seu planejamento até a execução das atividades, dos problemas que posso encontrar no dia-a-dia de sala de aula, fatores esses que contribuíram de forma positiva no meu estágio supervisionado.
O PIBID me proporcionou ainda a participação em eventos onde pude compartilhar as minhas experiências e aprender mais sobre educação, escola, teatro, no entanto, também me proporcionou sentimentos que muitas vezes só são vividos por professores já formados como: a frustração de não permitirem o seu trabalho por falta de informação sobre as suas finalidades, de não ter um espaço adequado para realização das atividades, de ter que mudar uma aula inteira por que a aquela que estava planejada não está dando certo, de ser obrigada às vezes a “esquecer” que as sua área tem seus conteúdos e especificidades e ter que trabalhar em cima de outro eixo que não o seu, de ver outro Licenciado falar do seu trabalho como se não tivesse importância alguma, entre outros dissabores que a nossa profissão pode oferecer.
Mas ninguém disse que ser educador era uma tarefa fácil e todas essas experiências, positivas ou não, foram valiosíssimas para minha formação, pois muito dos meus colegas que não tiveram a oportunidade de passar por essa experiência vão se deparar com essa realidade somente depois de formados, e aí não terão um orientador ou professor da mesma área com mais experiência que lhes diga como pode e deve contornar alguns desses problemas.  Até por que ser educador não é algo simples muito menos fácil, e algo que requer estudo, prática, teoria e como disse um dos educadores mais conhecido do mundo em seu livro A educação na cidade: "Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se forma educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática". (FREIRE, 1991).  

     Bibliografia:
FAZENDA, Ivani C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1994.
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1991.
JAPIASSU, Hilton.  Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976




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