Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Práticas teatrais NA EDUCAÇÃO DO SENSÍVEL

Práticas teatrais NA EDUCAÇÃO DO SENSÍVEL 


EVELIN SUCHARD¹; ADRIANA NUNES²; MARIA AMÉLIA GIMMLER NETTO³ 
¹Universidade Federal de Pelotas - evelin_suchard@hotmail.com
 ²Universidade Federal de Pelotas - dricanuness@hotmail.com
 ³Universidade Federal de Pelotas - mamelianetto@gmail.com 



                                                           1. INTRODUÇÃO


      Este texto visa analisar e relatar a percepção entre as discussões ocorridas na elaboração de nossa oficina “Sentidos: sentindo o corpo docente”, que foi preparada pelos bolsistas do Programa de Iniciação à Docência (PIBID) do Curso de Teatro-Licenciatura da UFPel, no ano de 2014. Esta oficina visava trabalhar, através de exercícios teatrais, a sensibilização para a vivência em sala de aula dos estudantes de licenciatura, professoras supervisoras e coordenadoras das escolas onde o subprojeto do PIBID Teatro está inserido e os diferentes resultados obtidos através de sua prática. Ao lermos o texto de Rubem Alves "Educação dos sentidos", sentimo-nos impulsionados a entender esse processo de educação dos nossos sentidos e até mesmo buscar provocá- lo através do teatro, ligando o estudo teórico à demanda do subprojeto em oferecer uma oficina de teatro aos pibidianos das diferentes áreas. Nas discussões, apareceram relatos sobre a pressa do dia-a-dia e observações sobre a qualidade do sentir das pessoas e da suas próprias vidas que poderia estar se perdendo. 
       Analisaremos a oficina como um todo, desde sua elaboração até seus diferentes resultados, tendo em vista que a oficina não se limitou a ser ministrada apenas para pibidianos de escolas pontuais que recebem bolsistas pibidianos do Curso de Teatro e expandiu-se para o Encontro geral do PIBID UFPel- Avaliando e Superando os Desafios da Docência e para a disciplina “Comunicação em Saúde” do Curso de Farmácia da UFPel, entre outras oportunidades, a fim de se entender, principalmente, os possíveis efeitos desse desenvolvimento do sentir, por meio de fundamentos da arte teatral, trabalhados para públicos distintos com diferentes objetivos. 
       A questão que nos guiou no decorrer de todo o processo foi: Qual a importância e necessidade de percebermos nosso corpo, de senti-lo em sua totalidade como participante de um processo de aprendizagem? 


     2. METODOLOGIA

     Com o inicio das novas atividades do PIBID-Teatro UFPel em maio de 2014 foi organizado o cronograma de estudos teóricos necessários para o aprofundamento das atividades disciplinares previstas no subprojeto. Com o ingresso de novos bolsistas de diferentes semestres do curso, fez-se necessário primeiramente o estudo dos PCNs e OCNs, (Parâmetros Curriculares Nacionais e Orientações Curriculares Nacionais) assim como a leitura do projeto do PIBID e do subprojeto do PIBID Teatro, além da realização de seminários sobre as leituras realizadas. 
         A partir do inicio do segundo semestre, já pensando em fundamentação teórica para a criação da oficina a ser oferecida ainda no mesmo ano como atividade disciplinar da área de teatro, iniciamos a leitura dos textos "Educação dos Sentidos" de Rubem Alves e "A Montanha e o Videogame" de JoãoFrancisco Duarte Jr. Após a leitura individual de cada texto pelos bolsistas, foise discutido em reunião de área, realizada semanalmente, os pontos pertinentes da leitura de cada um e feita uma reflexão geral acerca do que cada texto aborda. Na busca por englobar as percepções com o estudo teórico em uma oficina que efetivamente fizesse com que esse "sentir" do corpo e a importância que ele tem na postura de um professor, escolhemos os jogos que acreditamos ser os mais adequados aos nossos objetivos. 
       Os jogos selecionados para a elaboração da oficina prática foram retirados do livro "Jogos para Atores e Não-Atores" de Augusto Boal de uma classificação para se trabalhar os sentidos, selecionados previamente como material de estudo complementando as leituras já feitas acerca da educação do sensível. Os jogos citados a seguir foram os selecionados pela equipe de bolsistas: Bons-Dias (BOAL, 2002, pg 118); Odor das Mãos (BOAL, 2002, pg 162); Floresta de Sons (BOAL, 2002, pg 155); A Máquina de Ritmos (BOAL, 2002, pg 129) e A Menor Superfície (BOAL, 2002, pg 93). Pensando em um jogo simples que explorasse o paladar, não contemplado nos jogos propostos por Boal, o grupo de bolsistas criou um jogo que foi chamado de Rosto e Gosto, na qual os participantes são divididos em dois grupos, o que realiza a atividade e o que observa, alternando a função dos grupos, onde um determinado número de participantes experimenta variados sabores e o restante observa e tenta adivinhar através da expressão demonstrada por quem degusta, quais são as possibilidades de sabores vivenciados ou até mesmo descobrir exatamente o gosto que foi provado pelo colega. A previsão de duração para o desenvolvimento da oficina ficou no período de três horas. 
       Com a oficina elaborada, partimos para a organização de sua aplicação em escolas onde bolsistas organizados em trios ou em duplas, estavam atuando. Ficou determinado que a oficina deveria ocorrer entre final de outubro e início de novembro, preferencialmente no dia de reunião interdisciplinar que ocorria em cada escola. O PIBID Teatro, na ocasião, atuava em quatro escolas, sendo elas: Dr. Augusto Simões Lopes; Institituto Estadual de Educação Assis Brasil; Escola Técnica Estadual Prof Sylvia Mello e Colégio Estadual Felix da Cunha e o cronograma da realização da oficina foi planejado respeitando o andamento de atividades de cada escola. Após a realização da oficina em cada escola, discutiuse em reunião disciplinar as dificuldades e percepções, afim de que pudesse ser aprimorado o plano e seu desenvolvimento prático. 
      As bolsistas autoras deste texto relatarão as novas percepções que puderam ser obtidas com a realização da mesma oficina acima citada para dois públicos-alvos diversos. Uma delas terá foco na aplicação do plano de aula elaborado para os participantes do evento geral do PIBID, em que participavam licenciandos de diversas áreas de conhecimento. A outra enfocará a experiência de aplicar o mesmo plano de aula já citado para estudantes da área da saúde em disciplina ministrada pela professora Maria Cristina Werlang “Comunicação em Saúde”, momento em que os bolsistas do PIBID Teatro tiveram a oportunidade de ministrar a oficina para uma turma de estudantes do Curso de Farmácia da UFPel. 


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

      Nota-se a diferença da primeira aplicação da oficina para as que foram ministradas posteriormente a partir de um mesmo plano de aula, pois naquela ocasião existia a ansiedade de saber se o plano iria funcionar realmente. A cada oficina aplicada para grupos diversos e com objetivos diferentes, os pibianos ministrantes sentiram-se mais apropriados dos exercícios, o que foi fazendo com que os mesmos ficassem cada vez mais dinâmicos e fluídos. Identificamos estas características como um reflexo da segurança adquirida com as experiências vivenciadas pelos bolsistas, o que nos faz pensar novamente na oportunidade que o projeto nos proporciona em vivenciar práticas da docência que são tão efetivas para uma completa formação dos estudantes da licenciatura.
      A partir da proposta de que cada área de conhecimento oferecesse uma oficina no evento “II Seminário do PIBID - UFPEL: Avaliando e superando desafios da docência” realizado em Pelotas nos dias 02 e 04 de dezembro de 2014 decidiu-se aplicar o plano de oficina elaborado para que mais pibidianos pudessem conhecer nossa linha de trabalho. Os ministrantes dividiram-se em dois grupos e neste dia, metade aplicou a oficina na parte da manhã e a outra metade na parte da noite. Pelo fato dos pibidianos já haverem ministrado a mesma oficina em locais e grupo diferentes, a partir da experiência de aplicação nas escolas, algumas adaptações ao plano original ocorreram, como por exemplo, o jogo rosto e gosto que ganhou mais dinamismo sendo executado com mais de uma pessoa experimentando os sabores, diferente da forma com que alguns haviam aplicado em suas escolas de origem, quando apenas uma pessoa experimentava enquanto todas as outras assistiam e prestavam atenção nas reações dos colegas, tentando adivinhar o que havia sido ingerido. Nesta ocasião o jogo não se demorou tanto tempo como anteriormente e mais pessoas puderam participar da parte degustativa. 
       Outra modificação feita foi em relação ao fato de que o grupo de alunos da oficina, seria composto por pibidianos de diferentes cursos de licenciatura da UFPel e atuantes em deferentes escolas que sediam o programa. Eles não tinham ligação direta de conhecimento e isso fez com que houvesse alterações no plano de aula, principalmente o inicio, em que foi colocado um exercício de apresentação pessoal e outro de interação grupal, para todos integrantes já interagirem uns com os outros. Já durante a apresentação, pode-se perceber os participantes bem animados, integrados entre si e inclusive com os pibidianos ministrantes. Os exercícios fluíram bem e apesar de ter ocorrido uma prévia divisão entre os responsáveis por cada jogo, no momento de pôr em prática o plano de aula estavam todos tão à vontade que a condução da oficina ocorreu de forma colaborativa. Essa segurança com a oficina foi provavelmente um dos principais fatores para a realização proveitosa da mesma, juntamente a disponibilidade dos participantes, que deram retorno positivo ao final. Enquanto discutíamos a importância de momentos assim, que valorizem a presença individual e às relações grupais em que realmente sentimos e vivemos os momentos de trocas de aprendizados por meio do corpo sensível e, principalmente, o quanto esse tato é importante de ser observado em sala de aula. O evento foi uma das últimas atividades do semestre e encerrou o ano de 2014 e já no inicio de 2015, com a volta das reuniões de área, surgiu um novo convite, mas dessa vez para um público diferente do que era de costume.
     Até então as oficinas só haviam sido aplicadas para licenciandos pibidianos e professores supervisores e coordenadores, ou seja, sempre se estava no campo da formação em educação. Mas dessa vez a oportunidade surgiu por parte de uma professora do Curso de Farmácia. Essa oficina foi ministrada pelas bolsistas Evelin Suchard, Cibele Fernandes e Anderson Morais. Como feito anteriormente no seminário, realizou-se primeiramente uma apresentação entre todos participantes e ministrantes da oficina, apesar de muitos já conhecerem-se, por serem colegas, julgou-se necessário, como forma de aproximação, também, entre todos os que se encontravam ali presentes, mas diferente do seminário, não utilizou-se jogo de apresentação, mas sim a própria fala, como forma de fazer com que eles se sentissem disponíveis antes de realmente partir para a ação.
     Antes de começar-se o jogo dos bons dias "Jogo útil especialmente para iniciar espetáculos de Teatro-Fórum, aquecendo a platéia: cada pessoa deve dar bom-dia ou boa-noite a uma outra e dizer seu nome, não podendo largar a mão dessa primeira pessoa antes de apertar a de uma outra, para dar bom-dia ou boanoite, e assim por diante, formando-se redes de aperto de mão" (BOAL, 2002, pg 118), resolveu-se adicionar o jogo "Teia" que consiste em todos os participante formarem um circulo, dando as mãos aos colegas ao lado, marcando na memória para quem está dando a mão direita e para quem está dando a mão esquerda, depois todos soltam-se e andam pelo espaço, até que em um certo momento, quem está guiando a brincadeira pede parar todos os jogadores pararem no lugar e encontrar as mão das duas pessoas que estavam anteriormente, se movendo o mínimo possível e posteriormente tentando voltar ao circulo, é um jogo que reforça o trabalho em equipe, servindo como forma de interação, ao mesmo tempo em que envolve esse toque de mão e serve também para a concentração, pois enquanto os participantes tentam desenrolar a teia de braços, eles concentram-se sem nem perceber. 
        A oficina aconteceu de forma bastante dinâmica e fluida, os ministrantes estavam bem seguros e dessa vez nem se atribui a condução dos exercícios por cada ministrante individualmente, o grupo todo conduziu em conjunto e auxiliou a execução deles por parte dos participantes. Durante a condução dos exercícios já surgiram questões sobre as percepções sensoriais dos participantes, que estavam percebendo os sentidos e ligando às suas formas de abordagem para a sua área de conhecimento que é o campo da saúde. Ao final, durante a discussão, surgiu nitidamente essa necessidade que os estudantes da área da saúde têm, de trabalhar mais as relações humanas desta forma física e baseada nas relações grupais. Vivencia que, por unanimidade, foi considerada por eles essencial à sua formação 


4. CONCLUSÕES

        A cada parágrafo que ia sendo escrito relembrávamos de cada experiência. Fazer uma reflexão e conseguir concluir idéias e percepções que nos tocam em todos os sentidos e nos enchem a face de alegria ao desenvolver um trabalho que tem no título "sentidos" e "sentindo" se torna difícil ao momento que só nos vem a conclusão que o contato com o "despertar" de corpos não acostumados com a prática teatral, que vê-los distanciar-se das inúmeras atividades que um acadêmico de uma universidade pública tem e não perceber-se que quando se verifica as horas já se passaram e não sentiu-se. 
      “Despertar dos sentidos” é a “palavra mágica” que encontramos para definir o que aconteceu durante esse contato entre estudantes de cursos universitários diferentes, com entendimentos tão diversos sobre o "sentir" seu corpo e suas capacidades relacionais. É preciso desprendimento de certezas pré-estabelecidas e dedicação para se envolver em uma prática corporal para se pensar e mesmo sentir o corpo, que nos é instrumento de trabalho para a profissão. O professor não usa apenas do seu intelecto para desenvolver uma aula, ao ministrá-la ele se depara com ter que saber usar a voz, para que os estudantes percebam o que ele diz, depare-se às vezes em ter que usar o corpo todo para que possa fazer-se entender. 
      A troca que ocorreu entre ministrantes da oficina, estudantes do Curso de Teatro-Licenciatura e estudantes de outras áreas de conhecimento da UFPel, que muitas vezes não tem a oportunidade de pensar no corpo da como o entendemos em nosso Curso, foi elementar para que pudéssemos pensar a educação para além do intelecto. Também para pensarmos que vamos educar pessoas, com histórias de vida complexas, com experiências que desconhecemos e que cabe a nós saber aproveitar o melhor que essas pessoas trazem em seus corpos. Se pretendemos expor nosso conhecimento à determinadas pessoas a sabedoria do corpo sensível se oferece como material que se estende para além do reconhecimento de nossos alunos, mas se apresenta como base para o despertar da inteligência de nosso corpo, como profissionais que trabalham com educação e com arte. 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ALVES, R. Educação dos sentidos e mais. Campinas/SP: Verus Editora, 2005. 

DUARTE JÚNIOR, J. F. A montanha e o videogame: Escritos sobre a educação. Campinas/SP: Papirus Editora, 2010. 

BOAL, A. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

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