A
EDUCAÇÃO (DO) SENSÍVEL E O MUNDO CONTEMPORÂNEO
Encontramo-nos
em uma sociedade que está numa linha tênue entre a civilização e
a barbárie instrumentalizada pela primeira. Como mecanismo de defesa
em meio ao modelo de vida que temos, acabamos nos tornando
insensíveis. Pode-se inferir que desde a modernidade, quando o
conhecimento puramente científico se evidenciou, não se preocupou
com o saber sensível e isso causou uma regressão significativa da
sensibilidade. Existe uma educação unicamente para a obtenção do
conhecimento inteligível e uma negligência no que tange ao saber
sensível (concreto, particular e corporal).
A
deseducação do sensível tomou proporções tão grandes que se
reflete na arquitetura das cidades. Os prédios e casas agora podem
ser entendidos como “máquinas de morar”, um ambiente unicamente
funcional. Com tais mudanças, alguns hábitos como o de passear ou
simplesmente sentar-se à sacada e conversar com os vizinhos foram se
perdendo, diminuído a quantidade e a qualidade das relações entre
as pessoas.
No
âmbito da educação, esse sentido prático do viver dispensa um
educador e prefere um professor que simplesmente exerça uma função
que possa ser enquadrada no sistema de ensino. A arte-educação
sempre veio no sentido contrário desse movimento pragmático, porém
nos últimos tempos verifica-se que absorveu muito do racionalismo e
objetivismo e acaba sendo denominada como “ensino de arte”. Os
professores de arte pautam suas aulas em explicações acerca da
arte, sua interpretação e história e não se preocupam com uma
educação da sensibilidade.
O
desenvolvimento dos sentidos, ou ainda, o estímulo a práticas e
experiências sensíveis que envolvam os cinco sentidos corrobora
para uma melhor relação estésica com a realidade. Cabe ao
professor, que desperta a dimensão sensível nos educandos, a tarefa
de ir contra a brutalidade e frieza desse mundo cada vez mais
insensível.
A
ARTE NA EDUCAÇÃO: CINCO TEMAS PARA REFLEXÃO
1
– Toda nomenclatura guarda um enfoque, uma concepção, uma
filosofia, o que aponta para determinada metodologia.
A
concepção da arte no ensino curricular apenas como algo específico
e como conteúdo cognitivo e não como experiência induz somente a
discursos sobre as obras e o fenômeno estético, não proporcionando
o contato com ele. Como a arte vem sendo tratada como algo à parte,
caberia então trabalhá-la na escola enquanto “educação
estética” para torná-la mais efetiva e abrangente em que a
experiência estética esteja em primeiro plano e seja base para
algum exercício reflexivo posterior.
2
– A identificação da arte-educação com as artes visuais
Vincular
a arte à desenhos relacionando a geometria tinha o propósito de
“preparar” para trabalhos que serviriam ao mundo do trabalho como
desenhos arquitetônicos, por exemplo. A arte então estava
conduzindo ao conhecimento racional e útil. A música ainda teve uma
abertura maior na escola se comparada à dança e ao teatro. Estes,
por utilizarem o corpo como material de trabalho, ficaram de lado por
não terem espaço no ambiente cheio de tabus que era o ambiente
escolar. Tinha-se a noção de que o corpo não poderia produzir
conhecimento e que a corporeidade não poderia ser útil para o
desenvolvimento intelectual.
3
– A literatura deve fazer parte também da educação estética
Contos,
romances e poemas são utilizados apenas como instrumentos para
ensinar gramática e regras de concordância da língua negligencia a
possível fruição do conteúdo do texto pelo aluno e não permitem
a experiência estética que pode estar no próprio texto.
4
– A apreensão e compreensão da arte pelo corpo como unidade
A
experiência estética reverbera no espectador e movimenta nele o seu
saber sensível, próprio da corporeidade. O signo estético não tem
relação apenas com conceitos abstratos como os matemáticos, e sim
com experiências, recordações e o que faz na recuperação de
nossas vivências. O signo estético propõe uma vivencia e não
apenas uma leitura superficial.
5
– As dimensões da educação estética: experiência, auto
expressão e a reflexão
Das
três dimensões citadas acima, a mais imprescindível é a da
experiência. Como a experiência estética proporciona a apreensão
e posterior construção de significados para os signos, ela é
fundamental para uma possível auto expressão e para qualquer
reflexão.
A
MONTANHA E O VIDEOGAME (CORPO E EDUCAÇÃO)
A
diferença das gerações, é discrepante no que se refere ao modo
como concebem e entendem o próprio corpo. Nos últimos tempos, em
meio à telas e outros jogos virtuais, vive-se como se o corpo fosse
apenas um objeto físico daquilo que poderia existir tão somente na
virtualidade.
A
aparência e mobilidade do corpo é fruto de elaborações
socioculturais. Essa diferença discrepante nos hábitos das últimas
gerações em comparação com as anteriores, denota certa
valorização do menor esforço para realizar as tarefas do
cotidiano. O corpo do indivíduo passa a não ter grande alcance e
fica muito restrito nas suas ações sobre o mundo e desperta
questões existências já que o corpo é inadequado ao meio em que
vive. “O corpo é uma carga tanto mais penosa de assumir quanto
seus usos se atrofiam. ”.
O
corpo acaba sendo o culto do espetáculo: tratamentos estéticos cada
vez mais plurais e a inserção desses corpos numa sociedade
capitalista resulta em indivíduos que não veem o corpo como matéria
de sua existência, mas sim como um rascunho de um ideal projetado
pela publicidade que está a serviço de grandes corporações que
lucram pelo consumo desenfreado.
O
período histórico denominado “modernidade” priorizou o saber
científico e que substitui tudo que possa ser apreendido através do
corpo. Foge-se da materialidade e ruma-se em direção à abstração.
A evolução tecnológica e científica mudou substancialmente a
concepção de corporeidade. Busca-se o conforto máximo em
consonância com o poder aquisitivo do mundo capitalista. O corpo não
é instrumento operado por um indivíduo que acredita ser apenas
pensamento.
Não
é coerente falar-se em uma educação estética desconsiderando a
relação que se dá através dos sentidos entre o corpo e o mundo.
Uma educação dos sentidos se faz extremamente necessária ao passo
que só aumentam os descompassos entre a corporeidade e a vida
moderna. Busca-se então, um equilíbrio entre o abstrato e o real.
EDUCAÇÃO
DOS SENTIDOS
Rubem Alves
Analisando
o ser humano pode-se dizer metaforicamente que no seu viver possui
dois grandes universos: o da funcionalidade ou utilidade e o da
fruição. Em seu texto, Rubem Alves cria a imagem de que o homem
possui uma caixa em cada uma das mãos, uma de ferramentas que contém
todo o saber funcional e prático do existir e na outra uma caixa de
brinquedos, onde carrega tudo o que tange à fruição, à alegria e,
na grande maioria das vezes, tudo o que é dispensável para a
sobrevivência.
Para
que a ciência do uso das ferramentas não seja em vão, considera-se
a capacidade sonhadora do homem. Para que se empreenda o estudo de
novas técnicas para se chegar a um novo lugar há uma necessidade,
um desejo, um sonho. Logo, pode-se dizer que o conhecimento das
ferramentas sem uma utilidade pressupõe uma inteligência flácida,
sem vida, sem razão.
Para
que exista o sonho, o indivíduo tem que ser seduzido pelo universo
que o circunda. É então que o autor introduz a ideia de uma
“Educação dos Sentidos”.
*
A arte de ver: mais do que simplesmente direcionar o olhar para
decodificar imagens, mas ver as coisas como são, não negligenciando
as banalidades. Deixar-se ser seduzido pela beleza simples das coisas
que só pode ser percebida quando se sabe realmente ver.
*
A arte de ouvir: vive-se em uma cultura em que se procura muita
clareza na fala e negligencia-se a existência de clareza também no
ato de ouvir. Assim como na visão, deve-se aprender a ouvir os sons
do mundo, por prazer.
*
O tato: como um dos sentidos menos trabalhado, o tato também pode e
deve ser fruído de maneira diferente, com o “prazer erótico” em
descobrir o mundo não somente vendo e ouvindo, mas tocando.
Sentir
algo em contato direto, pelo tato, é uma das experiências mais
completas do conhecer aliada aos outros sentidos. O tato é provocado
pela visão que produz curiosidade, que incita sonhos.
Marcos
Kuszner
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