Práticas
Teatrais e Formação de Espectadores
Uma
ideia de democratização cultural foi semeada desde 1960 até meados
dos anos de 1970 por artistas e educadores de várias partes do
mundo. Semear e estender a arte para todas pessoas era o objetivo, e
o teatro era mais um veículo de questionamento e transformação da
sociedade, era uma ação política. Os artistas criaram uma proposta
pedagógica para manter uma relação mais direta com o público, um
meio de compreender a atuação política que estava inserida nessa
ação, assim havia uma mudança posição do espectador em relação
ao teatro. Surge também a preocupação com os “espectadores do
futuro”, uma ação que era desenvolvida através do “teatro para
crianças”, com a percepção de que as crianças deveriam ter uma
produção adequada a sua idade para que se tornassem adultos
capacitados e adaptados ao meio cultural e que assim pudessem
expandir a arte cada vez mais oficinas e espetáculos conseguiam
espaço na cena educacional.
As
animações
teatrais
visavam dinamizar a recepção teatral, as animações
teatrais autônomas eram
oficinas feitas tanto em escolas, fábricas, sindicatos com o
objetivo de mostrar diferentes técnicas teatrais aos participantes,
enquanto as animações
teatrais periféricas tinham
o foco na formação de espectadores, com base no espetáculo que
seria apresentado, e poderia acontecer antes ou depois da mostra.
Categorizando as animações em torno de um espetáculo temos o
seguinte divisão: animações
teatrais de integração escolar, este
segmento visava unir o teatro com as atividades escolares, as várias
áreas do conhecimento na escola usavam o espetáculo com proposta
pedagógica. Animações
teatrais de expressão é
uma das categorias, esta aplicava jogos de improvisação, com foco
na expressão dramática dos participantes. Animações
teatrais de leitura tinham
as atividades voltadas para que o aluno-espectador pudesse fruir mais
da obra, poderia conter fichas pedagógicas com informações sobre a
peça que iria ser assistida e sugestões de atividades para os
professores fazerem com os alunos, este segmento possuía duas
vertentes: a animação
de leitura horizontal,
os alunos debatiam e improvisavam cenas através do assunto da
mostra. E a animação
de leitura transversal os espectadores podem
ser capacitados para ler os signos da encenação.
O
espetáculo
animação é
uma denominação dada ao tipo de apresentação que o público
assistia, mas também poderia participar, ou seja, a intervenção
era feita no mesmo momento do espetáculo.
Existiam
dúvidas sobre os procedimentos alcançarem seus objetivos, e essas
dúvidas aparece no depoimento do diretor português João Brites:
Muito
pouco podemos saber do que terá ficado nos outros e contribuído
para manter vivo e acutilante o seu sentido critico, a
disponibilidade solidária, o gosto pela criação, pela comunicação,
pelo associativismo cultural, que foram e são os objetivos da nossa
atividade no campo da “expressão dramática” (Brites,1989,
p.98).
Os
sociólogos Roger Deldime e Jeanne Pigeon , escreveram uma matéria
no final de 1980 onde forma entrevistados vários adultos que haviam
assistido e participado das intervenções teatrais feitas pelo
T.J.A, essas entrevistas propunham dinâmicas para ver se os adultos
se lembravam das peças que haviam assistido quando crianças, e o
resultado foi que os alunos que haviam participados das animações,
feitas
pelos artistas ou pelos próprios professores estavam fortemente
presentes na memória dos adultos.
Atualmente
a escola é um espaço privilegiado para trabalhar com formação de
espectadores, mas antes de chegar aos alunos é necessário chegar
aos condutores, aos professores. Atualmente o professor é o maior
mediador de arte, tendo em vista a diminuição das animações
teatrais aplicadas por artistas nas escolas, mas este mediador tem
dificuldades em para fazer essa práticas, pois também não tem
formação artística para tal.
Ainda
sobre a formação dos espectadores, é uma via de mão dupla, pode
ser feita por meio de jogos, mas também pela montagem de uma peça
efetivamente, e não de uma mera reprodução de um teatro
profissional, mas uma criação própria, assim o espectador-ator
participará de todas funções artísticas da criação teatral.
O
espectador iniciante, a criança espectadora é tratada com
marginalidade pelo dito “teatro infantil” não toda a produção
mas em grande parte, e isso é reflexo da visão sobre a infância da
nossa sociedade, como se a criança precisasse ser completada de
alguma maneira. Isso faz com que as crianças não queiram ir ou
participar de um teatro, com a justificativa de que teatro infantil é
coisa de criança, e que só quando ela deixar de ser crianças será
melhor. Brecth escreveu: “a experiência demonstra que as crianças
compreendem, tão bem quanto os adultos, tudo o que merece ser
compreendido” (Brecth,1977, p.217) as questões da arte não estão
ligadas as faixa etária do espectador.
A
EDUCAÇÃO – ENTRE O CORAÇÃO E A RAZÃO
COMO
EDUCAR O CORAÇÃO
Esse
conceito de educação é do classicismo alemão, Wilheklm von
Humboldt usava a expressão” formação do temperamento” o
coração era vinculado ao sentimento e ao temperamento, mas será
possível educar o coração? O século XVIII era conhecido por ser
o século da Pedagogia e gerou um debate de que a educação deveria
não só incluir a mente no processo de aprendizagem mas também os
sentimentos deveriam ser educados. Alguns sentimentos como ódio,
inveja poderiam prejudicar a sociedade logo deveriam ter
interferência do pais e dos pedagogos, mas a pergunta era como fazer
isso. Alguns pedagogos achavam e educação estética um foco, a
poesia, a artes plásticas, a música e assim trazer sentimentos
sublimes, outros já pensavam ao contrário. Entre os educadores a
educação do coração também deveria ser feita na escola, Joachim
Heinrich Campe, utilizava a imagem metafórica do corpo como um
navio, guiado pelo juízo e movido pelos sentimentos.
A
educação nesse momento estava voltada para educação dos
sentimentos, mas como esses sentimentos eram educados era outra
história, nas escolas elementares as crianças aprendiam o senso de
obediência e autoridade da igreja e estado, a ideia se tornava um
adestramento. A educação passou por um período de carência, tanto
que na enciclopédia Meyer a compaixão era válida somente para os
“integrantes da comunidade”, ou seja mesma comunidade étnica, só
esses eram capazes de compartilhar sentimentos, a partir dessa
experiência muitas pessoas se moveram para enfatizar a educação do
coração. O governador Wihelm Hoegner propôs na Constituição do
Estado Livre de Baviera e foi sancionado na Assembleia Constituinte o
parágrafo 131” transmitir saber e habilidade, mas também a de
formar o coração e o carácter”.
Sobre
a empatia, enquanto alguns políticos pensam na educação de
valores, algumas escolas experimentava o treino da empatia, a
educação do ser humano envolve mais que mente, envolve também
sentimentos.
FORMAÇÃO
CULTURAL
Sibylle
Lewitscharoff, foi convidada a escrever sobre “Eros como princípio
pedagógico” nessa escrita ele conta como foi sua vida desde
pequena e como foi sua educação. Cita como a leitura foi importante
para seu desenvolvimento, Sibylle tinha um amor pela literatura e
pelo marxismo, estudou em uma escola para meninas e tinha o desejo de
sair da Stuttgart e viver um sonho em Nova York. Mas as ideias de
esquerda já dominavam a sua sala de aula, com muitas discussões em
pequenos grupinhos de esquerda. Ela diz que nunca viu a educação
com ato compulsório, o que ela tinha era curiosidade e que a sua
educação vinha de suas leituras, e que através das leituras
conseguir descobrir mais de si mesma.
Teatro
Pós-Dramático, doze anos depois.
O
texto fala sobre as questões do termo Pós dramático, e se esse
termo ainda seria o correto, ou se deveria ser revisto. Esse teatro
era conhecido por ser um teatro opositivo, radical, mas com o passar
do tempo ele passou a ser conhecido e aceito. O teatro alemão tem
muitos representantes, e abriu novos caminhos para o teatro, como por
exemplo, a performance (Gosh), os laços entra dança e o teatro
(Pina Baush). Um desenvolvimento do teatro Pós-dramático é que do
individual, o processo passou a ser em grupo, colaborativo, essa
mudança gera uma nova articulação teatral, o artista quer
efetivamente estar envolvido em todo processo de criação. O site
specific, é
um tipo de produção, os espectadores visitam lugares privados e
experimentam performances, leituras, com o objetivo de criar uma
situação de exploração pouco habitual, há um interesse em usar
lugar públicos, vídeos ou transformação de um determinado lugar
em um ambiente artístico para evidenciar algum significado político
do local.
Pollesh
critica estilo de vida no capitalismo, a partir de coros, e não de
personagens individuais ele usa a comédia para travar diálogos
ambíguos através do coro trabalhando as questões sócias e
culturais. O teatro e a sociedade começaram novamente a misturar,
principalmente quando surgem problemas sóciais a partir da crise
financeira sem fim, antes disso os novos meios artísticos (mídia,
fragmentação, performance) haviam se distanciado da ação
política. O coro é uma ferramenta importante para teatro, Einar
Schleef produziu e gerou muitas discussões sobre o coro na Alemanha.
Tem
se até aqui três tendências, o primeiro o processo de colaboração
de produção, o outro é o diálogo com a sociedade, o terceiro
seria o retorno do coro e pode –se citar como quarto o interesse
pela dança, ela ganha uma maior visibilidade e tem influência sobre
o teatro. O quinto elemento é narrativa, o poder da palavra, entram
aqui os textos narrativos ao lugar dos dramáticos. A fala é ato
principal da cena, o público deve lidar diretamente com ator.
Desde
1999, onde este estudo se inicia a noção e os elementos do teatro
pós- dramático continuam utilizados, o coro, o espaço aberto,
performance, a mistura das linguagens (pintura, filosofia, música).
O termo pós-dramático é usado em vários países, no meio
acadêmico é muito usado para fazer relações com a performance,
e/ou teatro experimental. Jean-Piere Sarrazac (2012) tem a proposta
de que o termo teatro
rapsódico seria
o termo adequando para o teatro contemporâneo, esse teatro se refere
a Brecht, e a Bernard Dort, essa alusão se faz demasiada enraizada
nas tradições dramáticas e talvez não de conta de todo a proposta
do pós-dramático como os textos não literários, a instalação, a
dança logo o termo rapsódico não seria ideal para substituir o
termo.
...”
O termo pós-dramático indica não só a soma de novas estéticas
teatrais desde a década de 1970 até a década de 1990, mas todo o
teatro, em suas formas anteriores e posteriores, que não é mais
dominado pelo modelo dramático. O conceito pode até mesmo assim,
ser considerado útil na análise de padrões culturais ou hábitos
mais gerais ...”
Sobre
a Teoria do Teatro e a Teoria da Performance não há necessidade de
uma divisão, elas operam juntas. O termo pós-dramático e a
performance são confrontados com a ideia e as normas da tradição
dramática, talvez só no futuro, em um tempo onde não houvesse
nenhuma lembrança do teatro dramático, a noção do pós poderia
ter seu sentido.
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