Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Resumo bolsista Gabrielle Winck

Práticas teatrais e formação de espectadores

 A ideia de formação de espectadores inicia em 1970/1980 com o intuito de tirar o teatro do seu espaço convencional e levar esta cultura para dentro de sindicatos, bares, igrejas, escolas, empresas e hospitais com a intenção de apresenta-lo a todo e qualquer cidadão, pelo fato de existir uma convicção de que todas as pessoas eram capazes de contemplar e fazer arte. O teatro era visto como um dos principais instrumentos de ação cultural, capazes de gerar questionamento e transformações na sociedade, em uma época onde as indústrias estavam a cada dia se desenvolvendo mais a tecnologia chegando a todo vapor e o processo de urbanização muito acelerado, alguns valores começavam a ser questionados. Com o intuito não permitir que o teatro esmorecesse diante da revolução, as trupes carregavam um forte teor ideológico nas suas representações e tinham o objetivo de provocar o publico a discutir as temáticas abordadas na peça, assim terminando com o fosso existente entre palco e plateia e redimensionando o espaço do publico que agora participava do evento. Desgrandes comenta: Dentre os relevantes movimentos teatrais que surgem neste período, voltados para a especialização de espectadores com o objetivo de estimular a plateia para uma tomada de posição crítica ante as questões apresentadas, destacam-se: as experiências do Living Theatre, realizadas nos Estados Unidos; as técnicas do Teatro do Oprimido aplicadas na França e no Brasil; a revisão da peça didática que provocou a retomada do teatro brechtiano provocando o desenvolvimento de ricas experiências de formação (2010, p11) O movimento da arte teatral espalhar-se por lugares onde até então não recebia apresentações levou as trupes a pensar mais fortemente na importância de formar espectadores. Desde o inicio da revolução industrial começou a luta pela valorização da criança que até então era vista como mão de obra barata para as indústrias e sem nenhum valor como ser pensante e crítico, junto com a luta pelos desfavorecidos e usurpados pela revolução estes foram ganhando reconhecimento, nesse processo a criança virou alvo predileto para as trupes teatrais. Defendia-se o direito da criança ser contemplada com produção cultural voltada especificamente para a sua faixa etária como também o direito à pratica artística. As trupes teatrais viam estas crianças como espectadores em potencial acreditando que no futuro estariam capacitados a prestigiar e desenvolver ações culturais. Com o intuito de alcançar muitas crianças e de várias classes sociais o ambiente escolhido para se estreitar relações foi a escola. Começa a acontecer nessa época propostas realizadas pelas trupes dentro das instituições de ensino com o foco nas crianças e jovens. As intervenções nas escolas são realizadas através de atividades de expressão dramática ou então na apresentação de peças, este movimento ganha o nome de animações teatrais, termo originado na França sendo “animation théâtre”. Estas acabam por se dividir em duas modalidades: “autônomas” e “periféricas”, a ação da primeira não estava vinculada a uma peça teatral baseava-se apenas em jogos e exercícios onde a criança/jovem tinha contado com a linguagem teatral e suas técnicas. Já a segunda tinha como objetivo a formação de espectadores através da apresentação de uma peça teatral, não deixando de lado atividades e exercícios, estes aconteciam antes ou depois da peça e tratavam do tema apresentado capacitando o espectador a fazer uma leitura mais minuciosa da encenação e suas artimanhas técnicas. A animação teatral aplicada por algumas trupes foi muito criticada por “pedagogizar” o teatro, atividades pós-espetáculo se prestavam como exercícios interligados com as disciplinas do currículo, acabando por servir como reforço para matérias obrigatórias. A utilização do teatro como ferramenta para a apreensão de conteúdos disciplinares empobrecia o diálogo do aluno-espectador (e os desdobramentos desse diálogo) com a peça, tonava a experiência estética padronizada, atrelando a recepção às necessidades da escola (2010, p.25) Não existia certo e errado na época, como até hoje não existe, o que acontece é que cada grupo vai tentando interpretar como devem acontecer as ações de formação de espectadores. Os objetivos que são observados em quase todas as práticas são as de que o espectador possa construir suas próprias respostas e ter um questionamento a fazer, conseguir analisar os signos utilizados, compreender melhor as artimanhas como gestos, atitudes e iluminação presentes em uma encenação e posteriormente consiga criar um imaginário com varias outras possibilidades para as resoluções da trama e também da parte técnica. Todo esse movimento realizado na escola é contestado por diversos fatores o que levou os agentes culturais a pensar em outras maneiras de formar espectadores, como também foi surgindo um novo modo de fazer teatro, agora ele começa a ser mercantil e isso faz com que as trupes mudem seu rumo e acabem modificando seu caráter ideológico e seu voluntarismo revolucionário. As animações nas escolas passam a ser pouco lucrativas e começa a haver uma preocupação com posições estruturais para se realizar o teatro. A partir de 1990 o termo animação teatral vai ser substituído por mediação teatral o que engloba não somente a formação de espectadores, mas a preocupação na recepção da peça buscando a qualificação do espectador com a obra teatral. Este “novo” modelo vai pensar em divulgação, produção, atividades pedagógicas de formação entre outros. “É preciso educar, formar os formadores, propiciar experiência, propor processos apaixonantes para formar apaixonados”. (2010, p.68) O grande desafio é não cair no empobrecimento da arte através do acesso numeroso de editais que obsevamos hoje, montar peça para participar de tal edital, ou então escrever uma dramaturgia as pressas para poder concorrer a premiação que as inscrições acabam amanhã. Acredito que nossa luta para formar espectadores deva estar diretamente atrelada a não produzir peças teatrais para agradar o publico e sim, realizar encenações que façam o publico se questionar sobre a sua realidade seja ela social ou psicológica.

Redigido por: Gabrielle Winck

 Referencia DESGRANDES, Flávio. A pedagogia do espectador. São Paulo: Hucitec,2010.

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